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Publicado em: 27/05/2020 - Autor: Edmílson Caminha - Visto: 1187 vezes
Em 1943, ao proferir palestra na Casa do Estudante do Brasil, no Rio de Janeiro, o escritor gaúcho Vianna Moog considerou a literatura brasileira uma porção de ilhas sem pontes que as interligassem: com exceção do Rio e de São Paulo, o que se escrevia no Mato Grosso não era lido em Pernambuco; o que saía em Pernambuco não chegava ao Amazonas; o que se publicava no Amazonas era ignorado no Rio Grande do Norte; o que se lançava no Rio Grande do Norte não descia ao Rio Grande do Sul... Depois de quase 80 anos, não perdeu de todo a validade o desânimo do extraordinário contista cearense Moreira Campos, a quem se negou em vida o reconhecimento a que tinha direito: "livro publicado na província é pedra atirada no fundo do poço..."
A situação, hoje, parece apenas um pouco melhor, graças às ferramentas com que a internet faz funcionar uma rede com milhões de leitores não somente no Brasil, mas em todas as partes do mundo. Ainda assim, há dificuldades. Tome-se, por exemplo, Eneas Barros: além dos conterrâneos piauienses, não devem ser muitos os brasileiros que sabem do que produz, mesmo em estados vizinhos, como Ceará e Maranhão. Pior para eles, distantes de livros que honram as letras do Piauí e enriquecem a literatura brasileira.
Jornalista, dá um cuidadoso tratamento literário a obras que podemos dizer grandes reportagens, como 15:50 - a história da menina-vampiro do Piauí (2010) e O boato - verdade e reparação no caso Fernanda Lages (2017), a que se juntam romances históricos com o vigor de Macauã (2008), O mistério das bonecas de porcelana (2015) e O escravo e o senhor da Parnahiba (2016). No mais recente, Esperança (Teresina: Nova Aliança, 2020), o ficcionista volta à colônia portuguesa que éramos no século XVIII, para narrativas de amor e de lutas que viveram degredados, bandeirantes, padres, índios e escravos, desbravadores do território brasileiro até os sertões do Piauí. Mais uma vez, Eneas Barros inclui-se entre os nossos grandes contadores de histórias, aqueles que enredam o leitor já nas primeiras páginas, pela competência com que inventam homens e mulheres, dão-lhes força humana e os põem com maestria no espaço e no tempo. Criaturas que, muitas vezes, ganham vida própria e agem até à revelia do autor, à semelhança do que ocorreu com personagens de Erico Verissimo, Jorge Amado e Rachel de Queiroz. É o depoimento que me dá em carta:
Leitores já disseram que a capacidade de prender a leitura é uma das características de minhas histórias. Acho isso muito bom, embora não tenha um método para seguir (Socorro de Maria, minha mulher, diz que meu método é não ter método algum, e que minha bagunça literária é um método que tem dado certo). Explico. Quando me decido por um tema a escrever, começo a pesquisar profundamente, até que por um estalo venha o primeiro parágrafo. A partir daí, nada mais é certo. Quando faço a previsão de uma cena, ela se modifica completamente no momento em que começo a escrevê-la. Minhas frases se reinventam a cada escrita. Acho que jamais seria escritor de novelas, ou daqueles que publicam em jornais um capítulo por vez. Ou ainda daqueles que sabem começo, meio e fim das histórias que vão contar. Os meus capítulos se modificam ao longo da narrativa, personagens entram e saem de cena, enquanto durar a escrita. Costumo fazer uma linha do tempo por personagem, para que não me perca nas idades e nos acontecimentos relativos a cada um. Acho importante a cadência temporal, embora algumas histórias minhas comecem pelo fim ou pelo meio, para depois voltar ao ponto em que a narrativa foi iniciada.
Antes, porém, mergulha o romancista em pesquisa histórica que lhe dará a conhecer valores sociais, comportamentos, objetos, roupas e até o uso da língua na época em que se movimentarão as personagens. Lembro-me do que disse Rachel de Queiroz, quando a visitei na Fazenda Não Me Deixes, a propósito do seu impressionante Memorial de Maria Moura: "O mais trabalhoso no romance histórico é a pesquisa. Quando escrevia que um jagunço riscara o fósforo para acender um cigarro, imediatamente me vinha a dúvida: será que naquele tempo, no fim de mundo que era o interior do Nordeste, os sertanejos levavam no bolso do gibão uma caixa de fósforos?" O testemunho de Eneas Barros não é diferente:
Os nomes dos meus personagens são pesquisados, para evitar erro etimológico, ou seja, que um português tenha nome de origem italiana que em nada se ligue à sua história, notadamente nomes usados em séculos passados.
Minhas histórias, embora ficção, são recheadas de fatos que aconteceram na época em que se passa a narrativa. Os personagens fictícios interagem com outros que existiram na vida real, para dar maior ênfase ao fato. E assim sigo tentando construí-los de forma coerente e convincente. O caso específico de Esperança foi muito prazeroso escrever. Estive em Salvador, para descrever melhor os cenários dos lugares citados, e na Casa da Torre (Tatuapara), de onde pude vislumbrar as cenas da conversa de Garcia d´Ávila Pereira de Aragão com o conde Artur. Fui ao cais da cidade baixa, para relembrar os saveiros atracados. Entrei em muitas igrejas e palacetes. Fui à fazenda Algodões, hoje pertencente ao município de Nazaré do Piauí, onde Esperança Garcia viveu. Pisei o mesmo chão que ela pisou e apreciei a mesma paisagem que ela via no seu dia a dia. Isso me dá um estímulo tamanho que você nem imagina. Estive em Santo Inácio, para ver as ruínas da casa dos jesuítas, e no olho d´água em que Anahí banhou-se sob o olhar de Coió, e onde o comerciante Faustino transou com Cattarina pela primeira vez, futuros pais de Esperança Garcia. (...) O fato é que não é fácil contar uma história. Os detalhes são tantos que chegam a desgastar a paciência do escritor.
Ao fim do volume, o romancista declara haver consultado 216 fontes, entre as quais nada menos do que 84 livros, e 25 documentos raros do acervo de um pesquisador piauiense - para cuja transcrição paleográfica, escritos que foram no século XVIII, chegou a contratar um especialista da Universidade Federal do Maranhão. A linguagem é saborosa, como na "relação" em que o signatário, inspetor Antônio Vieira de Couto, alude aos escravos condutores de uma boiada:
Estes tangedores vão alugados a salário, Joaquim em doze mil réis, e os cinco cada um a onze mil réis, forma em que melhor se puderam ajustar e importam todos em 67$000. Os quais salários se devem pagar logo nesse mesmo distrito aos mencionados tangedores, como prudentemente preciso para o seu regresso e transporte para esta Capitania, sendo estes unicamente os gastos que se devem fazer e em que vai pensionada a presente condução.
Com tamanha entrega à pesquisa histórica, não surpreende a riqueza das informações de que se vale o escritor como pano de fundo da narrativa:
A Casa da Torre ficava a algumas léguas de Salvador, construída no alto da Tatuapara. Dom João III era rei de Portugal quando Garcia dÁvila iniciava a expansão dos seus negócios. Chegado ao Brasil na comitiva do primeiro Governador-Geral, Tomé de Sousa, em 1549, o rapaz d´Ávila veio como criado e em pouco tempo chegou a Almoxarife da Fazenda de El-Rei. Integrou uma comitiva de seiscentos homens de armas e quatrocentos degredados. Sua esperteza o levou a ousar bem além do que imaginava possível, tornando-se, em futuro não muito distante, um dos maiores latifundiários do Brasil, com terras que alcançaram oitocentos mil quilômetros quadrados, da Bahia ao Maranhão.
A ver, também, o cuidado minucioso com que constrói personagens como o cônego Bernardo, comissário do Santo Ofício na Bahia de Todos os Santos:
Bernardo era um religioso rico e poderoso, frequentador da emergente nobreza luso-baiana com pompas e ornamentos, que se exibia em anéis vistosos nos dedos. Usava meias de seda e ligas com retrós e pontas douradas, arriscando-se a contrariar as leis do arcebispado da Bahia. (...) Era um oficial da Inquisição, eleito por suas qualidades e sangue limpo. (...) Costumava carregar em uma das mãos um terço e, na outra, um rebenque de couro retorcido e várias pontas, que usava nas costas dos negros que ousassem cometer erros.
São muitas, pois, as razões para que esse romance cruze os limites do Piauí para chegar aos leitores do Brasil inteiro. Somente assim, veremos construídas as pontes que interligarão definitivamente o fragmentado arquipélago da literatura brasileira. Tempo em que livros publicados na província deixarão de ser pedras no poço, para passar entre as mãos dos que neles têm uma das razões de viver. Essa, a grande esperança de Eneas Barros. E de todos nós.
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