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Publicado em: 15/09/2022 - Autor: Eneas Barros - Visto: 291 vezes
Pasárgada, de Manuel Bandeira, era o poema preferido de Zé Elias, que o declamava com a força propulsora que os seus versos provocam. Ele se transformava quase em um ator, a viver e a interpretar cada verso de Bandeira. Era tão intenso que, certa vez, tive o prazer de vivenciar um momento raro em sua companhia, que faço questão de compartilhar para homenageá-lo. Quando Zé Elias era presidente da Fundação Cultural do Piauí, eu e ele fomos, no final da tarde, a um bar na rua Paissandu, tomar algumas cervejas. Era o bar mais perto da fundação. Depois de alguns cascos vazios, Zé começou a declamar A Moenda (Da Costa e Silva), Pasárgada (Manuel Bandeira) e outras poesias. Por uma dessas coincidências agradáveis, que acontecem na vida da gente, começou a chover e faltou luz. Algumas velas foram espalhadas pelas mesas, proporcionando ao ambiente uma atmosfera surpreendentemente aconchegante, que nos acalmava a todos. Restava no ar apenas a voz profunda de Zé Elias, a invadir nossos ouvidos e nossos corações. Sucedeu-se um silêncio respeitador, quando todo o bar parou para ouvi-lo. Foi, para mim, um momento sublime de cumplicidade, aquilo que, naquele instante, a poesia e seu intérprete provocavam nos presentes. Entre um poema e outro, palmas respeitosas ecoavam bar adentro, por pessoas que nunca havíamos visto antes. A noite seguiu. Quando chamamos o garçom para encerrar a conta, tivemos uma surpresa: alguém já a havia pago, como um agradecimento ao momento fascinante que Zé Elias proporcionou a todos nós naquela noite chuvosa. Hoje pela manhã, nossa amiga comum Dora Parentes me ligou, para informar do seu falecimento. Morreu José Elias Martins Arêa Leão, dia 13 de setembro, às 23:15. Mais um amigo se foi, mais uma biblioteca destruída, mais um peso para aumentar a dor da perda de um amigo querido.
Texto: Eneas Barros
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